Bispo: O Peregrino da Solidão

Simon Schama diz que "a grande arte tem péssimos modos e que seu poder está na surpresa perturbadora".
Isso é Bispo do Rosário!


Arthur Bispo do Rosário, brasileiro, nascido em Sergipe no ano de 1909 e falecido em 1989.
Sua biografia é bastante provocadora e instigante. Foi marinheiro dos 15 aos 23 anos de idade, mas em  1938 bispo é preso como indigente e demente, sendo levado para um hospício situado na praia Vermelha (RJ).
Diagnóstico: Esquizofrênico-paranóico.
Um mês depois é transferido para a colônia Juliano Moreira onde permaneceria cerca de 50 anos, sendo 7 anos encerrado num quarto pintando e bordando, reconstruindo um mundo novo. Como ele dizia: “eu faço o que a voz manda".
Ao fim dos sete anos a voz disse: "A obra esta pronta"
Desfiava o próprio uniforme para bordar seus estandartes. Com a mesma linha azul, enrolava todos os utensílios que encontrava no pátio do hospital. Era um catador e acumulador voraz de objetos (in- úteis).
E daquele minúsculo quarto/atelier uma obra gigantesca em quantidade e qualidade beirando a genialidade aguardava a hora da passagem para o mundo real.
O escravo do Senhor havia cumprido seu trabalho. E que trabalho. O Brasil tinha um artista de calibre mundial. Um visionário com seus "ready mades”, sem ter a menor noção do que isso significava.
Seríamos capazes de distinguir num rápido olhar os objetos de Bispo junto ao de outros mestres internacionais que usam a mesma linguagem plástica? Vou mais longe... Esses objetos comuns, hoje elevados ao patamar de arte, seriam admirados e valorizados num outro contexto?
Robert Rauschenberg nasceu em Port Arthur, Texas no ano de 1925 e faleceu em maio de 2008.


Marcel Duchamp nasceu em Blainville-Crevon, França em 1887 faleceu em outubro de 1968.

Roda da fortuna de Bispo X Roda de bicicleta de Duchamp
Detalhe: Bispo nunca viu a roda de Duchamp


Arman nasceu em Nice, França em 1928 e faleceu em 2005 em Nova York. 


 Obras de Arman X Obra de Bispo

Em 2007 o jornal The Washington Post fez uma experiência sobre ARTE E CONTEXTO. Convidou um dos maiores violinistas do mundo para tocar numa estação de metrô.  Joshua Bell, vestindo jeans, boné e camiseta tocou Bach durante 45 min. com seu Stradivarius de 1713, avaliado em US$ 3,5 milhões. Resultado: somente três pessoas pararam para ouví-lo, apenas uma senhora o reconheceu e arrecadou a bagatela de US$ 32,17 no total.
A pesquisa mostrou que, sem ADEQUAÇÃO e CONTEXTO a arte não existe.
"É difícil enxergar o seu ambiente quando você está no seu ambiente. Procure o visível invisível" 
                                            Joshua Davis

12 comentários:

  1. Oooowww! Somente você para criar uma postagem como esta. Parabéns pela criatividade, pela informação, pela crítica e por tudo que faz pela arte.
    Sou seu fã
    Celso B.

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  2. Lou,
    acabo de ler a melhor postagem crítico/biográfica
    dos últimos tempos!
    Obrigado!

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  3. Lou
    Como é importante parar para pensar e repensar conceitos e preconceitos, valorizar e respeitar as diferenças! Uma aula de história da arte e também de história da psiquiatria. Beijos

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  4. Que mundo fantástico esse em que a arte e a loucura mal se distinguem, se é que o fazem. Sabe-se lá de onde vem a criatividade, não é? Aprendi muito e revisitei certezas para mudá-las um pouco.
    Arte que vale um olhar resiste em qualquer contexto ou fora dele. Me assusta que o não reconhecimento de Bell tenha sido traduzido por falta de qualidade, por não ter sido acompanhado de aplauso. Fico imaginando quantos ouviram, admiraram, mas não teriam sabido quem ele era,mesmo com crachá.
    Um grande abraço e parabéns por mais um post excelente.

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  5. Querida Clarice, a questão do Bell era falta de contexto. As pessoas, de um modo geral, não conseguem perceber algo ou mesmo alguem muito especial num espaço inadequado.É por isso que vamos as salas de concertos, museus, galerias etc. Mas tu tens razão até mesmo a qualidade fica comprometida num espaço inadequado e um público tão heterogêneo e com outras urgencias e necessidades naquele momento, digamos,inadequado e inesperado.
    Obrigado por tua visita e comentário.Grande abraço, Lou

    ANTONIO, COLEGA QUERIDO, fiquei emocionada com
    teu comentário. Uau muiiiito obrigada, abraço Lou
    Obrigado

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  6. precioso post!!!
    muy buen gusto
    un besazo enorme cielo =D

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  7. Muito interessante. Saudações de Madrid. :)

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  8. Olá, LOu!
    Adorei seu blog, tenho procurado blogs sobre arte e achei o seu por aí. parabéns!
    bjs cariocas

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  9. :-)

    a arte reside em si mesma e faz morada naqueles q concebem sua percepção...
    PODE ESTAR EM MTOS LUGARES, SER MTAS COISAS...
    vejo arte aqui, ali, lá, acolá...

    superblog, Lou...

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  10. hummm... a propósito rotular(julgar, condenar, excluir) o q não pode ser compreendido ou q nos suplanta é uma prática bem comum e antiga... rsss

    mas a obra revela o q a razão pura d'alguns nunca alcançará... q o q era oculto, seja claro, afinal!

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