Arte e Aparência




Recentemente vi dois filmes: Cópia Fiel do iraniano Abbas Kiarostami e o Retrato de Dorian Gray, do diretor Oliver Parker, baseado no romance de Oscar Wilde.
O enredo dos dois filmes me faz lembrar uma teoria Freudiana presente no livro O mal-estar na Civilização onde ele diz:
 "O ser humano não consegue ser feliz porque esbarra em três problemas insolúveis:
1. A incapacidade de dominar a natureza
2. A decrepitude do corpo
3. A relação com o outro"
Queiramos ou não, os filmes ou a arte de uma maneira geral é um vai e vem permanente na abordagem desses tópicos.
Mas o que me chamou a atenção foi a posição oposta, e de certa forma estranha, de cada filme em relação as obras de arte. 


Em Cópia Fiel o protagonista, um erudito escritor, propõe uma forma inusitada de ver a arte em seu novo livro. Para ele nem mesmo a Mona Lisa é um quadro original. Segundo o escritor, o original seria apenas a própria Gioconda quando posava para que Da Vinci a pintasse. No mais tudo são aparências, ou melhor, uma cópia fiel.

Criador, Criatura e Criação

Já em o Retrato de Dorian Gray, existe uma relação complexa entre Criatura X Criador x Criação, frente a disputa de poder e gloria. No filme, ao término da pintura, o pintor olha para o retratado, Dorian, e afirma: " a obra superou o original". Dorian, assustado com a constatação, passa a sentir-se perseguido pelo belo retrato.
No filme Cópia fiel, a referência ao que tudo indica é sempre com artistas renascentistas, portanto acadêmicos, mais próximos da semelhança. No Retrato de Dorian Gray, sendo um trabalho mais decorativo, impressiona pela extrema habilidade e virtuosismo do pintor. Pinceladas de cores delicadas e inocentes.
Neste caso a aparência do retrato é sempre mais próxima do original (Dorian) idealizado.
Picasso ao retratar, por exemplo, Dora Maar teria tido esse problema? 

Cada obra de Picasso, ou cada artista expressionista, frente a sua obra com caracteristicas tão proprias e originais é sempre ORIGINAL por si só.  As refencias e aparências são bem mais difíceis.
A obra é sempre maior que o original e nunca será uma cópia fiel.
Isso vale para qualquer época e todo grande artista.
VIVA LEONARDO!! VIVA MONALISA!!