A Necessidade da Cor: Aquarela



Junto com a simplificação do desenho veio a vontade de cor.
Havia criado um vínculo muito forte com o papel, este suporte é matéria viva , no toque do papel um vigor sensual , as fibras de algodão, a textura, o calor, enfim, é quase poesia. Duas necessidades: manter o papel e acrescentar cor, uma tinta que preserve espaços em branco onde o papel possa respirar.


E foi assim que a aquarela surgiu em minha trajetória de pintora.
Novamente fui buscar um mestre: um grande pintor e gravador, meu amigo Danúbio Gonçalves.
Ele ensinou-me as técnicas da aquarela e também litogravura. Mas esta nunca foi minha paixão, produzi muito pouco.
Fui tocada pela aquarela, tinta dissolvida na água, a magia das manchas e veladuras, as nuances a sutileza.




Foram mais de 10 anos apenas dedicado a esta técnica. Usei todas as possibilidades desde a mais simples e pura até a mais "barroca", cheia de colagens com os mais variados materiais, passando por papel impresso do tipo revistas, livros antigos, cartões postais, tecidos finos como voile, tule, pedaços de roupa pronta, celulose, folhas de ouro, etc. E pensar que alguém um dia me disse: "cuidado, pois a aquarela não se pode errar, ela não tem conserto".







Talvez este tenha sido meu desafio. Trabalhei com a minha técnica até a exaustão. Quanto mais ousava mais ela me dava bons resultados.
Neste mesmo período usei muito o próprio pigmento com adição de cola branca e água. Assim, eu tinha uma espécie de aquarela, mais densa e com cores bem mais fortes.





Experimentar sempre foi o meu forte, gosto do desafio de testar novas mídias. Usei muita terra, de várias tonalidades, assim como carvão, cinza de lareira (uso até hoje), café solúvel, pedras macias e maceradas, lápis de cera, lápis aquarela,  pastel seco, ecoline, guache, etc.
A aquarela me dá uma sensação maior de mistério e de liberdade.

"Algo magnífico na aquarela é expressar atmosfera e distância de modo que a figura esteja rodeada por ar e possa respirar nele". Van Gogh







Todas aquarelas da postagem são de Lou Borghetti. A cópia é permitida somente se houver citação explícita no artigo que reproduz o conteúdo, incluindo links para a página da autora ou seu Blog.

A Desconstrução do Desenho


Conheci o Iberê no final de 1980, mas só passei a frequentar seu atelier em 1982.
Estava na hora de priorizar a forma, o gesto, a emoção em detrimento da técnica acadêmica. Costumo dizer em meu Atelier: Cuidado com desenhos "perfeitos", via de regra lhes falta emoção e identidade.
Em nossos encontros, Iberê buscava grandes mestres da pintura universal. A ele lhe encantava Goya em particular. (Ver post sobre esse tema)
E olhando para uma reprodução impressa em livro, Iberê traçava de um golpe a forma toda, olhando mais para a reprodução do que para seu desenho.
Achei aquilo magnífico e comecei a exercitar.
 Nos primeiros a linha fica dura e sem graça, mas logo o traço foi ficando livre, leve e solto. 






O desenho passou a ter identidade...

















Desenhar faz parte da minha vida de pintora. Ele é, e sempre será a base da pintura. Hoje meus desenhos estão bem mais simplificados, poderia colocar dezenas deles, mas deixo uma mostra do que ando produzindo.





Como diria Iberê: "A linguagem dos pintores é muda, uma mímica especial."