van Gogh (1853-1890) tinha em Jean F. Millet (1814-1875) seu grande ídolo. Sua admiração por Millet era tamanha que pintou, a sua maneira, mais de 10 pinturas todas baseadas nas obras do mestre.
van Gogh acreditava que "sempre se aprende e se encontra consolo e companhia na obra de outro (autor)". A arte é um mundo poderoso e de infinitas possibilidades. É preciso paixão e dedicação.
Pablo Picasso costumava frequentar o Museu do Prado com a intenção, quase única, de ver a grande tela de Diego Velázquez.
Ficava horas olhando e desenhando. O resultado foram 44 pinturas e centenas de desenhos todos baseado na grande pintura Las Meninas.
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É bem comum mestres do presente, ou do passado recente, olharem os grandes que os antecederam e a partir de suas obras criarem novas - uma espécie de releitura. Picasso fez o mesmo com a tela Almoço na Relva de Manet, entre outros. E por falar em Las Meninas, lembro da pergunta que tantas vezes fiz a mim mesma: Mas afinal porque essa emblemática pintura é tema sempre recorrente de pintores contemporâneos? Seria a composição em uma escala de grandeza, as cores, o tema, a perfeição do todo, o pintor presente na tela ligeiramente afastado a pintar outra tela, ou seria a própria,...? É tudo isso aliado a sensação de incógnita magia que a tela emana e nos seduz. Michel Foucault faz um relato magnífico desta obra no livro As palavras e as Coisas: uma arqueologia das ciências humanas; Capítulo 1 - Las Meninas.
Fica aí a dica.
A infanta e Aglaupi, Lou Borghetti. (Releitura a partir de Velázquez e Picasso)
O trabalho de Eduardo Berliner, artista jovem e conceituado, mostra que a arte contemporânea ainda se utiliza das mesmas ferramentas dos antigos e clássicos pintores. A diferença é apenas no modo de execução, a forma é nova, não convencional.
É frequente a pergunta dos meus alunos sobre o ato criativo, desenvolvimento de uma linguagem pessoal, cartela de cores, etc.
Aqui é possivel ver claramente que um artista não cria nada do nada. Seleciona imagens do cotidiano que lhe chama atenção, recorta, remonta, fixa na parede. O uso constante do sketchbook com rápidos desenhos aquarelados, nanquin, etc.
Pesquisa de cores e pinceladas próprias. O uso do modelo vivo, ainda que apenas para fotografar e posteriormente servir de tema para uma pintura. É importante notar que a "pose" da modelo e do cão sai completamente dos padrões conhecidos e aí está o mote, o diferencial: "linguagem própria". Quando dizemos que inspiração é 10% e os outros 90% é transpiração, é isso. Muito trabalho, pesquisa, desenho, mais desenho, recortes de jornais e revistas e foto-montagens. Pintar e repintar tantas vezes quanto forem necessárias, até que o resultado esteja bom.
Bom apenas, o melhor, aquele perfeito... será quem sabe no próximo. E assim seguiremos fazendo e transformando eternamente.
Esse post meio didático tem endereço certo, aos meus alunos e a todos que tenham interesse ou apenas curiosidade.